Greve, descontos, juros


“Todo esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro!” (Chico Buarque)

Agora é greve!, bradaram milhares de educadores gaúchos naquele 5 de setembro cinzento. Para surpresa do governo Sartori, contra todas as expectativas, a decisão legítima e necessária da Assembleia Geral do CPERS ecoou das ruas de Porto Alegre para todo o Rio Grande.
O senso de dignidade, justiça e amor próprio falou mais alto e pôs em marcha a maior greve dos últimos 15 anos. Em pouco tempo, 70% dos trabalhadores em educação estavam paralisados, ou melhor, em movimento.
Não houve ameaça de desconto de salários que freasse o ímpeto, a gana e a força da categoria. A liminar concedida pelo Judiciário – o mesmo que solenemente lavou as mãos depois de decretar a proibição de atraso e parcelamento de salários, não imputando sanção ou multa à desobediência governamental – não serviu de escudo; a luta, sim!
Cada vez mais unida e forte, a Greve foi arrastando multidões, despertando a consciência profunda sobre dignidade e direitos. A cada chacota governista, como a da infeliz ideia de questionar o Comando de Greve de onde tirariam o dinheiro para pagar salários, respondíamos com firmeza: essa é uma responsabilidade do governo, mas apontamos o combate à sonegação, a revisão das isenções fiscais e a cobrança da Lei Kandir como saídas para a dita “crise”.
Sem saída, acuados, tentaram um golpe de marketing: a saúde do governador (nas eleições, o apelo sentimental envolveu até mesmo a sua própria mãe como fiadora de um suposto bom caráter). Caiu no ridículo: rapidamente trataram de abafar a ação e o governador reapareceu, agora no papel de piedoso administrador de uma crise que ele mesmo gestou.
O pronunciamento poderia ser um daqueles casos a ser estudado numa faculdade de Comunicação Social: na linha do “uma mentira repetida mil vezes vira uma verdade”, Sartori deu um show de pirotecnia discursiva: os salários estavam em dia (dito isso em 24 de setembro!!!), que nunca atrasou mais do que 8, 9, 10 dias úteis o pagamento (o salário de agosto foi completado com 12 dias úteis de atraso!!!), “esqueceu” do 13º fatiado a ponto de virar esmola e anunciou a redentora faixa salarial a contar dos R$1.500,00 (não elimina atrasos e deixa mais de 80% do funcionalismo de fora) a partir do 5º dia útil.
A “novidade” agora é pagar os juros decorrentes do atraso e parcelamento, oferecendo percentuais de poupança para cobrir o prejuízo financeiro causado por juros de mercado.
Governador, entenda: a Greve é por dignidade e direitos, contra o sucateamento do serviço público e o indecoroso leilão do patrimônio estatal, coisas que entendes bem, pois fostes o braço forte do governo Britto, aquele que só não terminou de passar o Rio Grande nos cobres porque foi derrotado nas urnas e cujo projeto não foi retomado no governo Rigotto, justamente pela recusa do povo gaúcho em ver suas riquezas entregues de mão beijada!
Foi com sua “destreza” que Britto arrebanhou votos para aprovar a renegociação da Dívida Pública Estadual que se transformou numa cascata de juros extorsivos e lançou o Estado numa profunda crise fiscal e financeira.
Não, governador Sartori, agora não é hora para lançar mão de jogadas de marketing barato. O encerramento do ano letivo ainda em 2017 depende de medidas sérias e imediatas: fim dos parcelamentos, integralidade e pontualidade no pagamento de salários, 13º e férias, retirada das PECs que adulteram datas e prazos para pagar os mesmos.
Sim, sem revanchismo, mas com convicção, podemos dizer que agora quem vai descontar essa fatura e com juros, é o Magistério Estadual e o conjunto do funcionalismo público.
Dia 29 Porto Alegre vai tremer! Todos à Assembleia do CPERS e ao Ato Unificado dos Servidores Estaduais!

Professor Alex Saratt,  vice-diretor do 32º Núcleo

 

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