Marco Weissheimer/Sul21
O ato-show em defesa das ocupações e contra o pacote do governo Sartori que extingue fundações, demite servidores públicos e abre as portas para a privatização de empresas públicas no Rio Grande do Sul instalou na Praça da Matriz um cenário que resume o ambiente político que o Estado vive hoje. A porta de entrada do Palácio Piratini, protegido por grades que bloquearam a rua Duque de Caxias, permaneceu o tempo todo guarnecida por seguranças vestindo roupas civis e homens da Brigada Militar. Do outro lado da rua, na Praça da Matriz, algumas centenas de manifestantes começaram a se concentrar no final da tarde para o ato político cultural que entraria noite adentro. Ao lado, as portas da Assembléia Legislativa seguiam fechadas pelo terceiro dia consecutivo, exceção feita aos participantes da cerimônia de entrega do prêmio aos “lideres e vencedores” da política gaúcha, que homenageou nomes como Eliseu Padilha, Nelson Marchezan Junior, prefeito eleito de Porto Alegre, e Eduardo Leite , prefeito de Pelotas.
No final da tarde, quando iniciou o ato, alguns casais vestidos a rigor para a referida cerimônia, atravessaram, meio surpresos e sob os gritos de “Fora Sartori!” , a concentração para o ato de protesto. Também no início da manifestação, a organização advertiu o público sobre a presença de alguns “infiltrados” e pediu que todos ficassem atentos para não cair em provocações. O ato transcorreu sem incidentes e foi marcado por uma crítica feita de diferentes formas por vários artistas ao pacote de medidas anunciado na última segunda-feira pelo governador José Ivo Sartori: essas medidas, em especial as propostas de extinção da TVE, da FM Cultura e de fundações que produzem conhecimento para o Estado expressam uma “grande ignorância” por parte dos atuais ocupantes do Palácio Piratini.
A programação do ato foi aberta por Mari Martinez e Lucas Hanke que, antes de iniciar sua apresentação, chamaram uma vaia para o governador José Ivo Sartori. Em seguida, a cantora e atriz Jana Figarella, acompanhada de Felipe Muller, deu continuidade ao calendário de apresentações do encontro que reuniu algumas centenas de pessoas na Praça da Matriz. “A nossa arma aqui é a arte e vamos procurar isso da melhor forma possível”, disse Figarella. Depois, subiram ao palco a banda de rock GWGM e a cantora Adriana Defentti.
Um dos pontos altos das apresentações foi protagonizado por Nelson Coelho de Castro que definiu como uma “grande ignorância” a proposta de extinção da TVE e da rádio FM Cultura. “Essa proposta expressa uma grande ignorância sobre o que a TVE e a FM Cultura significam para a história de Porto Alegre, disse o músico que fez um chamado ao combate à resignação e convidou o público a cantar com ele a musica “Felicidade”, de Lupicínio Rodrigues.
Durante ao ato, as sucessivas atrações foram compondo uma pequena história cultural de Porto Alegre que, ao longo dos anos, encontrou na TVE e na FM Cultura um espaço de manifestação que não existia em outros canais de comunicação. Vários gêneros musicais se sucederam no caminhão de som instalado em frente ao palácio. A banda Psicopatos fez uma releitura de “Metamorfose”, de Kafka, com a musica “Gregor virou uma barata”. O grupo de Hip Hop “Rafuagi”, de Esteio, apresentou sua música sobre o massacre de Porongos, que provocou a morte de algumas centenas de negros escravizados, durante a Revolução Farroupilha.
O músico Totonho Villeroy falou sobre a importância da luta que estava sendo travada naquele momento, na Praça da Matriz. “Venho cumprindo esse dever cívico desde 1976, quando estudava no Colégio Júlio de Castilhos”, disse Villeroy que apresentou a idéia, muito aplaudida, de artistas ocuparem a TVE e a FM Cultura, ao menos por 24 horas, para promover um dia de programação especial em defesa das emissoras.