Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha é tema de debate do Coletivo de Igualdade Racial de Pelotas


Para marcar o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, celebrado nesta segunda-feira (25), o Coletivo Regional de Igualdade Racial e Combate ao Racismo do 24º Núcleo do CPERS (Pelotas) realizou uma roda de conversa online para debater o tema.

O vice-presidente do CPERS e diretor do Coletivo Estadual de Igualdade Racial e Combate ao Racismo, Edson Garcia, ressaltou a importância da data para trazer à tona a reflexão necessária. “É um dia para festejar, mas também para refletir. Precisamos enaltecer e valorizar a figura destas mulheres. Vivemos em um país onde 56,2% da população é composta por pretas e pretos”, observou.

Garcia também lembrou da inoperância da Lei 10.639, que trata do ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas. “A Lei foi um grande avanço, mas não existe uma vontade real do governo e das mantenedoras para que seja realmente aplicada”.

“Se as escolas realmente trabalhassem o conteúdo previsto nessa lei, hoje estaríamos, por exemplo, estudando a história de Tereza de Benguela, líder quilombola responsável por combater à escravidão por duas décadas”, salientou.

O vice-presidente do Sindicato destacou ainda que a data celebrada nesta segunda-feira (25) é fruto de políticas públicas de valorização. “Se temos o 25 de julho, que originou o Julho das Pretas, foi devido às políticas públicas feitas por uma mulher, a ex-presidente Dilma, que valorizou a figura das mulheres negras”.

O diretor do 24º Núcleo, Mauro Rogério Amaral, frisou que o tema do racismo tem que ser observado cotidianamente. “Datas significativas como a de hoje nos fazem parar e refletir. Eu sempre trabalho com meus alunos a importância da luta contra o racismo. O caminho é fortalecer a resistência e a luta”, disse.

Racismo é a dor da alma

Durante a roda de conversa, a educadora Bernardete Ávila emocionou-se ao lembrar de um dos tantos episódios de racismo que sofreu durante a infância. “Eu ainda era menina, a minha escola estava formando uma banda e eu cantava. Fui escolhida para ser a mór da banda da escola. Eu e minha família ficamos muito felizes. Imagina, uma menina negra em destaque! Mas, na hora da apresentação fui trocada por uma colega branca. Isso me marcou muito e fico triste ao ver que pouca coisa mudou atualmente. Racismo é a dor da alma, dói muito”, emocionou-se.

Noemia Izolmira Medeiros expôs que em muitas escolas percebe-se a falta de vontade de trabalhar não só os conteúdos previstos na Lei 10.639, mas também trazer o debate sobre a importância da postura antirracista. “Vivemos momentos bastante conturbados nas escolas. Muitas direções se dizem antirracistas, mas não agem dessa forma. Precisamos mudar essa realidade com mais conscientização”.

Raquel Gil, da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras do RS (Fetrafi), lembrou da discriminação existente no mercado de trabalho para as mulheres negras. “Para nós, mulheres negras, é uma data muito importante. A gente sabe o quanto ainda há exclusão nos cargos em bancos, por exemplo. Temos que abrir os olhos e os corações das pessoas sobre o perigo do preconceito”.

“As escolas seguem com casos de racismo. Temos que olhar para os nossos alunos e para toda a bagagem que trazem consigo. Nenhum negro quer ir registrar Boletim de Ocorrência, na realidade, o que queremos é não sofrer agressões”, afirmou a tesoureira do 24º Núcleo, Ana Paula Dias Rosa.

“Infelizmente não temos muito a comemorar. Avançamos, mas ainda há muito o que progredir”, acrescentou.

Jeferson Ximendes, educador de uma escola em uma colônia de pescadores na região de Pelotas, relatou o empenho da escola para debater a importância da tolerância e do respeito. “Quando comecei a trabalhar na escola, já percebi que a grande maioria dos alunos eram brancos. Identificamos um racismo muito grande e então decidimos que iríamos trabalhar as diferenças. Hoje acho que conseguimos um bom avanço”.

O CPERS, através dos Coletivos Regionais e Estadual de Igualdade Racial e Combate ao Racismo reafirma sua defesa incondicional de práticas e de uma cultura antirracista, na sociedade e nas escolas e saúda o dia 25 de Julho – Dia Internacional da Mulher Negra, como mais um exemplo de política a ser seguida por outros Governos.

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