Canto, sinetaços e rodas de conversa animam acampamento na Praça da Matriz


O segundo dia de Acampamento da Resistência em Defesa da Educação, na Praça da Matriz, foi marcado pela criatividade e o início de uma programação estruturada das atividades, organizadas coletivamente pelos cerca de 30 educadores(as) de todo o estado acampados(as) no local.

No raiar desta quarta-feira (5), o sinetaço de 4 minutos e 2 segundos – para “acordar” Eduardo Leite e lembrar 42 meses de salários atrasados – foi acompanhado de sátiras musicais criadas no improviso. As canções foram incorporadas pela dupla Cantadores do Povo no final da manhã e embalaram o dia de luta por respeito, concursos públicos, salário em dia e reposição emergencial.

Nas letras, referência às pautas e ao governador: “o menino do outro lado, é bonito e fala bem, mas não adianta ser bonito e comportado e pagar sempre atrasado”.

O espírito colaborativo permeia toda a organização, inclusive as refeições. O professor Gilberto Luis Maiotto, conselheiro do CPERS e cozinheiro oficial do acampamento, participa das lutas da categoria desde 1970. Para ele, estar presente é muito mais do que lutar por salário. “Precisamos, mais do que nunca, da força e união de toda a nossa categoria. Só assim poderemos barrar os ataques aos nossos direitos”, disse.


Cira Maria Gassen Kaufmann, professora e diretora do 18º Núcleo, lembrou que o acampamento tem um papel estratégico em função do prazo para a apresentação de emendas à Lei de Diretrizes Orçamentárias, que finda nesta sexta-feira (7). A proposta já foi encaminhada pelo governo e nela não prevê reposição salarial para a categoria. “Nosso objetivo é fazer pressão no governo de Eduardo Leite e também aos deputados para que sejam sensíveis a nossa justa causa”, afirmou.

Durante a tarde os(as) acampados(as) confeccionaram coletes para reforçar as pautas de reivindicação e participaram de uma roda de conversa com a representante do Instituto Cubano de Amistad com Los Pueblos, Yarisleidis Medina e a presidente da Associação Cultural José Martí do Rio Grande do Sul, Maria Joana Azambuja.

“Nós entendemos que é de extrema importância para o movimento social estar junto ao acampamento do CPERS, que está reivindicando uma educação de qualidade, o fim do parcelamento dos salários e um reajuste digno para a categoria. A educação é prioritária. Já dizia José Martí, sem educação e sem cultura um povo jamais será livre”, destacou Marajoara.

O Conselho do 39º Núcleo do CPERS aproveitou o acampamento para realizar a sua reunião na praça e organizar suas pautas para o Conselho Geral do CPERS, também marcado para sexta-feira.

História de luta e resistência

Participante ativa das ações do CPERS, a professora Nilza de Souza Schebella, sócia desde 1978,  participa de todas as greves e entidades desde o momento em que associou-se ao sindicato. Ela relembra o marcante acampamento de 1987, durante o governo de Pedro Simon, quando veio de Santa Rosa para a capital com o filho de seis anos e morou na Praça da Matriz durante quase 100 dias.

“Lembro que trazíamos cuca, bolacha, mandioca e outros alimentos para fazermos comida ali no colégio Paulo Soares e servir no acampamento aqui na praça. Teve uma vez que a polícia nos proibiu de instalarmos as barracas, então o pessoal ficava dentro delas e quando a polícia vinha, saíam andando com a barraca na cabeça”, contou.

Ela ainda rememora os anos de chumbo da ditadura e as repressões vividas na época. “Uma vez, estávamos realizando uma manifestação e o governo do Simon mandou a cavalaria para cima de nós. Eu caí e um cavalo pisou na minha perna. Tenho uma marca devido a isso”.

Após tantos anos de lutas, Nilza diz que nunca imaginou que a situação pudesse chegar ao que se apresenta hoje, com atraso e parcelamento de salários, e ainda as demissões dos contratados que estão doentes. “Isso é desumano. Mas, nós vamos continuar lutando, não vamos esmorecer. Temos força, coragem e seguiremos firmes contra tudo que impedir a garantia dos nossos direitos. Nossa missão é nobre, merecemos valorização e respeito”.

O acampamento encerrou as atividades do dia como iniciou: com um sinetaço que durou quatro minutos e dois segundos.

As atividades continuam nesta quinta-feira. Confira a programação:

 

 

 

 

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