Com 59 anos completos nesta terça-feira (10), a EEEF Padre Theodoro Amstad faz parte da história da Vila do IAPI, bairro fundado na década de 50 e considerado um patrimônio cultural de Porto Alegre.
No que depender de Eduardo Leite (PSDB), entretanto, a escola não passará disso: história.
“É uma morte lenta”, conta a coordenadora Patrícia Festugato, que dedicou 21 anos da sua vida à instituição. Ela descreve um processo de enxugamento iniciado em 2016, quando o governo Sartori (MDB) determinou o fechamento do turno da tarde.
“Agora, a Seduc não direcionou novas matrículas e deixou a escola sem o 6º ano. As famílias ficam nessa incerteza de turmas, sem saber como vai ser o próximo ano letivo, com medo de fechamento. É uma tática para fechar a escola por falta de procura”, afirma Pati, como é chamada nos corredores da Padre Theodoro.
São contínuos os esforços para asfixiar a instituição, que conta com excelente espaço físico e condições estruturais invejáveis para o padrão da rede estadual.
Em 2018, o governo incluiu a escola em uma lista de 10 instituições a serem fechadas. Em dezembro do último ano, Pati foi chamada à Seduc. Lá, foi informada: a escola deveria encerrar as atividades.
Ao saber da notícia, a comunidade escolar se mobilizou, organizou um abaixo-assinado e garantiu uma sobrevida à Theodoro. No entorno, estudantes e educadores(as) distribuem panfletos, faixas e usam as redes sociais para divulgar as vagas na escola e aumentar o número de matrículas.
“Me dói muito ver a situação que estamos. Foi aqui que fiz a minha vida profissional”, destaca. “Estou sobrecarregada, cansada, não tive férias. Fiquei organizando tudo para que a escola não fechasse. Mas não vamos desistir”, conclui a educadora, que assumiu interinamente o posto de diretora após a ocupante do cargo se aposentar no final de 2019, como muitas fizeram na corrida contra o tempo gerada pelo pacote de Eduardo Leite.
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Educadores(as) trazem alimentos de casa para garantir a merenda
Como oficialmente não há direção, os recursos para a merenda e insumos básicos não são repassados pelo governo. “Ainda temos alguns alimentos estocados do ano passado, mas os professores e funcionários trazem de casa para ajudar no lanche. Até eu ajudo com o que posso”, conta a merendeira Maria Marinho, carinhosamente apelidada de Tia Laura pelos alunos.
“Essa escola é a minha primeira casa, pois passamos mais tempo aqui. Somos uma família e a gente se conhece pelo olhar. Eu não arredo o pé daqui. Serei a última a apagar a luz se a escola fechar”, reflete.
O amor à casa e o vínculo com a comunidade é o que mantém viva a disposição de resistir.
“Estamos fazendo de tudo para ajudar, desde cuidar da limpeza do pátio até dar apoio para os professores. É lastimável. O governo quer privatizar e tirar a educação da sua responsabilidade”, frisa o presidente do Conselho Escolar e pai de aluno, Marcus Vinícius Dellegrave.
Contra o descaso, a perseverança. “Vamos fazer um pomar para as crianças e os alimentos serão usados na merenda, temos um projeto de fazer uma sala ao ar livre. Como não temos incentivo do governo estamos pensando em realizar um almoço para arrecadar fundos para a escola. Precisamos ajudar a pagar as contas”, projeta.
“Costumo dizer para a Pati: quem sabe essa não é uma chance para a escola recomeçar, se reinventar? Lutaremos até o último suspiro”, conclui.
“É uma escola que tem toda a infraestrutura pra acolher centenas de estudantes e proporcionar uma educação de qualidade. Te pergunto o que o governo vai colocar aqui? Um posto policial?”, questiona Sueli Maria da Silva Gonçalves, 73 anos, que leciona história e geografia há 16 no educandário.
A professora de Ciências, Cláudia Monteiro, sonha em oferecer atividades no turno inverso. “Temos estrutura, vamos trazer os jovens pra escola no turno inverso, tirá-los da frente do computador, da televisão e até das ruas, incentivando novas matrículas. A comunidade escolar quer essa escola aberta. Nossa comunidade é presente não permitirá que nossas portas se fechem”, compartilha.
Juçara Leonardi, professora aposentada, visita a escola quase diariamente para oferecer auxílio e carinho. “Meu amor à escola é muito grande. Trabalhei ainda no prédio antigo, nós recebíamos mais de 200 alunos. Fiquei muita admirada com essa tentativa de fechamento, um prédio maravilhoso, com uma estrutura exemplar. Aqui as professoras e funcionárias se doam para a escola e para os alunos. Me machuca muito ver tudo isso que está acontecendo.”
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