Professor da rede estadual utiliza Star Trek para ensinar História


por Livia Meimes

Alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Otaviano Manoel de Oliveira Jr, de Guaíba (RS), estão aprendendo História ao mesmo tempo que fazem a saudação vulcana “Vida longa e próspera”, em referência ao gesto feito com as mãos que popularizou o personagem Sr. Spock (Leonard Nimoy), na série Jornada nas Estrelas (Star Trek), da década de 1960. Pela idade, a maioria nem sequer havia ouvido falar da famosa série norte-americana até o ano passado, mas a chegada Do professor de História Eduardo Pacheco Freitas mudou bastante a realidade da escola. Trekker há duas décadas, o docente estadual, que detém os títulos de Mestre e Especialista, utiliza a temática em suas aulas do 7°, 8° e 9° ano do EF.

O destaque recente fica por conta da turma de 9º ano, “alunos acima da média”, elogia o professor. Esta semana, eles entregaram o resultado da atividade para o conteúdo de Nazismo e 2° Guerra Mundial, que envolveu o episódio “Padrões de Força”, da segunda temporada da série original. Segundo Freitas, foi um trabalho exigente, que buscou despertar a capacidade dos alunos em interpretarem a sociedade na qual vivem, bem como problemas históricos, a partir das obras de ficção. A aluna Luana Soares da Silveira que escreveu um dos melhores artigos, que o diga.

“As pessoas podem se perguntar por que Star Trek, se existem tantas obras que tratam sobre a 2ª Guerra Mundial e o Nazismo que se passam no calor dos acontecimentos. mas a resposta é simples: pelos valores que Star Trek nos ensina. Além do respeito à liberdade, à diversidade, aprendemos a defesa intransigente da tolerância” afirma o educador, que mantém um blog e um grupo no Facebook que discutem sistematicamente tudo relacionado ao tema, e onde Freitas inclusive divulga sua metodologia e os resultados.

No caso da aula sobre o Nazismo, considerada por Freitas como uma das melhores experiências do ano em função do alto nível dos trabalhos, só restam elogios aos alunos, sem contar o vínculo professor-aluno, que melhorou muito quando eles passaram a compartilhar os ensinamentos trekkers. “A filosofia principal de Jornada nas Estrelas é ‘Infinita diversidade, em infinitas combinações’. Isto é, tudo que aprendemos com a série é justamento o oposto do que o nazismo pregou e colocou em prática”, finaliza o professor Trekker.

Como o professor de História, Eduardo Pacheco Freitas planejou suas aulas sobre Nazismo e Star Trek em 6 passos:

1°) Explicação breve sobre a história do antissemitismo na Europa até atingir o estágio de “antissemitismo racista”, que serviu de força motriz ao nazismo;

2°) Contextualização sobre o ódio e a perseguição sistemática aos judeus ao longo da década de 20 e seu recrudescimento a partir da chegada dos nazistas ao poder;

3°) Exibição do documentário “Arquitetura da Destruição” com o objetivo de demonstrar que o nazismo se trata (também) de uma estética, objetivando “embelezar o mundo” através do extermínio dos elementos culturais e artísticos considerados degenerados (entartete kunst), elementos estes associados diretamente aos bolcheviques e aos judeus, considerados pelos nazis “representantes étnicos da internacional comunista”;

4°) Discussão a partir deste dado, que não bastava ao nazismo eliminar a arte “bolchevique e judaica”, mas era necessário eliminar fisicamente (a solução final) os criadores desta cultura, isto é, os judeus, que desta forma foram diuturnamente desumanizados pela propaganda nazista, associados perante a opinião pública através dos meios de comunicação de massa a animais, insetos e vermes. Assim surgem os campos de concentração e extermínio.

5°) Exibição do episódio “Padrões de Força”, de Star Trek, onde há uma denúncia contundente do nazismo. Na produção em questão, de 1966 (portanto duas décadas após a liquidação do nazismo), é possível verificar a perseguição, a desumanização e as tentativas de aniquilição de um povo. Na história, nazistas e judeus; na ficção, ekoseanos e zeons. Da mesma forma, o episódio nos transmite a ideia de que qualquer tentativa de extrair algo de positivo do nazismo (o desenvolvimento econômico da Alemanha nazista, por exemplo) é uma impossibilidade.

6°) Para finalizar, foi sugerido aos educandos que produzissem um artigo onde pudessem demonstrar que aprenderam a utilizar as produções audiovisuais como ferramentas de leitura de mundo, interpretação da realidade e problematização historiográfica. O formato do artigo vem em seções padronizadas: Título; Resumo; 1. Introdução (apresentar a intersecção dos dois temas: Nazismo e Star Trek); 2. Nazismo e perseguição aos judeus (com o objetivo de historizar-se o holocausto); 3. Realidade e ficção (com o objetivo de desenvolver a competência de leitura crítica de determinado evento histórico a partir de obra ficcional); 4. Conclusão; Referências.

Saiba mais no blog do professor Eduardo
https://edootrekker.blogspot.com

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