CPERS participa de Audiência Pública que debate crise no IPE Saúde


Na manhã desta quinta-feira (13), o CPERS participou de Audiência Pública que debateu o tema “Alternativas para Melhorar o Atendimento à Saúde dos Servidores Públicos Estaduais em Relação ao IPE Saúde”. O encontro, proposto pelo deputado estadual Halley Lino (PT) e promovido pela Comissão de Segurança, Serviços Públicos e Modernização do Estado da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, reuniu representantes de diversas entidades do funcionalismo público estadual.

Durante o debate, ficou evidente a grave situação do IPE Saúde, que enfrenta sérias dificuldades para garantir atendimento de qualidade às(aos) seguradas(os). A falta de médicos credenciados, o número reduzido de especialistas e os atrasos nos repasses comprometem o acesso a consultas, exames e procedimentos essenciais. Para as(os) educadoras(es) gaúchas(os), que dependem majoritariamente do Instituto, essa realidade representa mais do que uma carência de atendimento: é uma violação do direito básico à saúde e um reflexo do descaso do governo Eduardo Leite (PSD) com as(os) servidoras(es) públicas(os) estaduais.

A coordenadora do Departamento de Saúde da(o) Trabalhadora(or) do CPERS, Vera Maria Lessês, destacou a importância do IPE Saúde para as categorias do serviço público estadual, que vêm sendo constantemente desvalorizadas pelo governo Eduardo Leite (PSD). “Quando Tarso Genro era governador e tínhamos reajuste, pagávamos 3,6% e estavam incluídos titulares e dependentes. Depois, os cônjuges também foram contemplados e, naquela época, o IPE apresentava superávit. Desde então, os governadores que vieram sequer repuseram a inflação, e sabemos que isso impacta diretamente na arrecadação do Instituto”, ressaltou.

Vera também chamou atenção para as desigualdades regionais no atendimento: “A realidade do IPE Saúde em Três de Maio não é a mesma de Porto Alegre. Na região metropolitana o atendimento é melhor, enquanto no interior há grande carência, mesmo com os colegas pagando o mesmo valor. O IPE Saúde precisa buscar mais credenciamentos no interior para atender com qualidade todos os segurados”, afirmou.

A dirigente lembrou ainda que, com a reestruturação promovida pelo governo Leite (PSD) em 2023, as(os) seguradas(os) passaram a contribuir de 3,1% para 3,6%, mesmo sem reajuste salarial real. “Além disso, passamos a pagar pelos dependentes e cônjuges, o que agravou ainda mais nossa situação financeira”, observou.

Por fim, Vera reforçou a urgência de que o IPE Saúde amplie o credenciamento de médicos e cumpra as promessas de melhoria feitas durante a reestruturação da autarquia. “Faz dois anos que estamos pagando mais, sem ver melhorias no atendimento. Queremos que os recursos que contribuímos sejam, de fato, investidos. E reafirmamos: nós não podemos novamente ser os responsáveis por pagar essa dívida”, concluiu.

Também estiveram presentes no encontro o 1º vice-presidente do CPERS, Alex Saratt, e a diretora do Sindicato, Andrea da Rosa.

Descaso e desrespeito com a saúde das(os) servidoras(es) estaduais

Além do CPERS, diversas outras entidades reforçaram a necessidade de melhorias urgentes nos serviços oferecidos pelo Instituto de Assistência à Saúde das(os) Servidoras(es) Públicas(os) do Rio Grande do Sul.

A secretária-geral do Sindppen, Janice Willrich, trouxe um relato comovente de um colega de profissão que perdeu a filha de apenas 11 meses em decorrência de mau atendimento e negligência médica. “Passamos por quatro pediatras do IPE Saúde e mais três pelo SUS. Nossa filha apresentava febre e sonolência por cinco dias, mas os médicos apenas recomendavam analgésico. Um deles chegou a rir da minha cara e disse: ‘Tu és pai de primeira viagem, ela não tem nada’”, contou o pai.

O relato segue: “Pedi que fizessem um raio-x e, quando fizeram, internaram-na imediatamente. Tentamos conseguir uma vaga pelo IPE Saúde, mas não obtivemos êxito. Também não conseguimos ambulância, porque o Instituto não dispõe desse serviço. Dali em diante, ela só piorou. Hoje, tenho uma dívida de quase 50 mil reais com a Santa Casa, porque o IPE Saúde não pagou nada. O Instituto não faz nada, não oferece atendimento digno. Queremos que o IPE volte a ser um plano de saúde de qualidade”, desabafou o pai enlutado.

“O problema do IPE Saúde é claramente um problema de gestão. A falta de importância que o governador dá ao Instituto fica evidente quando observamos que já foram trocados cinco presidentes, cada um permanecendo cerca de um ano no cargo. Isso demonstra falta de compromisso e responsabilidade do governo, que, junto com a direção do IPE, impõe um cenário de desgaste e precarização no atendimento. Estamos pagando cada vez mais — e pagando caro — sem ver melhorias. O IPE é nosso, o IPE é sério. Só quem não é sério é o governo do estado, que, neste momento, não tem a responsabilidade de cuidar do patrimônio que é nosso”, analisou o presidente do SindIPE, Ivan Barreto.

A coordenadora do Sinters de Rio Grande, Suzi Barros, destacou o constante adoecimento das(os) educadoras(es) municipais e estaduais e a falta de acesso a atendimentos adequados, especialmente no interior. “Quando mais precisamos de atendimento, não temos em Rio Grande e precisamos nos deslocar até a capital. Antigamente conseguíamos atendimento em Pelotas, mas hoje nem lá encontramos mais os especialistas de que precisamos. Temos que pagar passagens caras para vir a Porto Alegre e, se o caso é urgente, acabamos pagando também pela consulta”, relatou.

O presidente da Associação Agenda Brigada Unida (AABU), Pierre Dornelles, também compartilhou preocupações, relatando o caso de uma médica que enfrenta dificuldades para se credenciar junto ao Instituto. “Não conseguimos entender por que o processo de credenciamento leva de quatro a oito meses. Qual é a dificuldade do governo em gerir o IPE Saúde de forma eficiente? Queremos saber para onde vai o dinheiro que é descontado de nós todos os meses. Precisamos de transparência”, cobrou.

Como encaminhamento, o deputado Halley Lino (PT) destacou que solicitará uma reunião com o atual presidente do IPE Saúde, Paulo Rogério Silva dos Santos, na qual, junto aos representantes das entidades presentes na audiência, entregará um documento reunindo todos os relatos e denúncias apresentados durante a atividade.

O CPERS reafirma que o IPE Saúde é essencial para garantir o direito à saúde das(os) educadoras(es) e demais servidoras(es) públicas(os), especialmente diante da sobrecarga de trabalho e das condições, muitas vezes precárias, enfrentadas na rede estadual. Um atendimento de qualidade e acessível é fundamental para preservar a vida, o bem-estar e a dignidade de quem dedica sua trajetória à educação. Por isso, o Sindicato reforça que seguirá firme na luta em defesa de um IPE Saúde público, eficiente e humanizado, um Instituto que valorize e cuide, de fato, de quem sustenta os serviços públicos do Rio Grande do Sul.

Fotos: CPERS e Lucas Kloss/ALRS

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