Com salários parcelados, professores criam pedágio solidário para pagar passagem de ônibus


No sábado (29) pela manhã, a professora de inglês Lilian Kunz Lopes Garcia foi ao banco para descobrir que havia recebido apenas R$ 450 do seu salário. Pelo nono mês consecutivo em 2016, 14º desde que os parcelamentos de salários começaram a ser adotados pelo governo do Estado no ano passado, Lilian entrou em uma crise nervosa por não saber como vai terminar o mês.
“Entrei em crise, recebi ligação dos meus pais – que são idosos, professores aposentados pelo Estado – que também não tinham recebido o salário e não sabem como vão sobreviver até o fim do mês”. Professora da rede estadual há 19 anos, Lilian trabalha 60 horas por semana em duas escolas de Porto Alegre. Ela diz que a jornada de 9 horas e meia por dia nas escolas é o que faz para poder honrar todas as contas no fim do mês. O que já não é mais possível.
Na semana passada, enquanto se deslocava entre uma escola e outra, abriu a bolsa e descobriu que já não tinha dinheiro para a passagem de ônibus. O motorista acabou abrindo a porta lateral para que ela subisse sem passar a catraca. As “caronas” no transporte público, que professores se obrigam a pedir quando se aproxima o fim do mês, estão cada vez mais comuns.
Não ter dinheiro para a passagem de ônibus virou rotina entre os relatos dos professores do Estado. Para ajudar colegas que não têm mais dinheiro para chegar à escola, um grupo de professores e funcionários do Colégio Estadual Emílio Massot realizou, na tarde desta quinta-feira (03), um pedágio solidário, na esquina das Avenidas Ipiranga e Érico Verissimo, para tentar angariar fundos para passagens.
“Queremos ajudar os colegas que estão com mais dificuldade. Se chegou a uma situação que não temos mais a quem pedir”, conta Neiva Lazzaroto, professora da escola. Na abordagem aos motoristas, o papel entregue pelos professores dizia: “eu quero trabalhar, mas Sartori não quer deixar”.
A iniciativa também busca denunciar para a população o drama vivido pelos professores. Luciana Regina Hoffmeister, também professora do Emílio Massot, avisou em sala de aula que teria de parar as aulas até o salário ser depositado. Ela usa quatro ônibus todos os dias para ir da sua casa, no Jardim Vila Nova, até a Cidade Baixa, onde leciona.
Mãe de dois filhos que dependem do salário dela, Luciana conta que já não pode mais pedir empréstimo no banco. “Agora estourou tudo, não tem mais de onde tirar. Sou professora e tenho que viver pedindo carona [no ônibus]. É uma humilhação”, diz ela.
A ideia é repetir as ações de pedágio e tentar levá-la a outras escolas. Os professores também planejam uma ação coletiva de registro de boletins de ocorrência, sugerido pelo CPERS, que vem sendo adotada em outras escolas do Estado.

Fonte: Sul21

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