O Conselho Geral do CPERS manifesta repúdio à aplicação da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), realizada em meio ao agravamento da crise sanitária da COVID-19 no Brasil.
O país já passou a marca de 220 mil mortos pela doença e está vivendo uma terrível segunda onda de transmissão, além de registros de reinfecção e de uma variante mutante do coronavírus. Hospitais estão em colapso e há muitas incertezas sobre os prazos para vacinação da população.
Em meio a esse cenário de horror e apesar da preocupação de pais, professores(as) e estudantes e do alerta de diversas entidades científicas e políticos que pediam o adiamento do exame, o governo Bolsonaro insistiu em manter a realização das provas.
Os dois finais de semana de aplicação foram marcados por salas ocupadas acima da capacidade, abstenção recorde e muito medo de contágio.
Ainda em março de 2020, nos primeiros momentos da crise de saúde que tomaria o país e o mundo, surgiram os pedidos para que a prova fosse adiada. Em maio, após muita pressão da sociedade, o Inep adiou o exame para o início de 2021, mesmo após pesquisa realizada pelo próprio instituto onde estudantes escolheram o mês de maio de 2021 para a realização.
Com a insistência no mês de janeiro, 51,5%, dos 5,8 milhões de inscritos, não conseguiram fazer a prova no primeiro dia (17 de janeiro). Além daqueles que não compareceram pelo medo de infecção, outros muitos ainda foram barrados nos portões de entrada por culpa da lotação das salas.
Já a primeira experiência de um Enem digital teve menos de 30 mil participantes e problemas técnicos que deixaram candidatos sem prova em alguns locais. A abstenção foi de 68% entre os 96 mil candidatos confirmados.
Esse foi o maior número de abstenções desde a origem do Enem, em 1998.
Todo esse caos ainda corrobora para a ampliação das desigualdades educacionais, já tão acentuadas no período da pandemia.
Em documento que pedia o adiamento do Enem, a Defensoria Pública da União ressaltava que o exame existe para reduzir a desigualdade do acesso ao ensino superior e não pode servir para ampliá-la.
O ano de 2020 foi marcado pela defasagem educacional causada pela pandemia, onde a desigualdade econômica fez com muitos alunos e alunas não conseguissem realizar as aulas oferecidas à distância. A rede pública, com raras exceções, enfrentou diversas dificuldades na preparação dos estudantes para a conclusão do Ensino Médio.
É justo submeter jovens que mantiveram rotinas de estudos e acompanhamento tão diferenciados a um exame da importância do Enem em meio a esse caos?
Tudo isso é mais um reflexo da má administração e do desinteresse do atual governo com a educação e o bem-estar da população. Adiar a prova seria uma escolha pela vida, mas Bolsonaro optou pelo caos e confirmou sua insensibilidade diante de tantas mortes já ocorridas.
Imagem destaque: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil