Temer e Sartori agem como camicases do neoliberalismo


Sergio Araujo

Existe uma máxima na administração pública gaúcha, e diria até na brasileira, algo meio político-cultural, de que é preciso desconstituir o que foi realizado pelo governo anterior e, principalmente, mostrar inovação gerencial. E nesse troca-troca de governos coisas boas acabam ficando perdidas no tempo. Sem continuidade. Por mais eficazes que tenham se mostrado. Numa análise superficial, diria que se trata de um sentimento dúbio de covardia, por medo de fazer menos do que o governante que o antecedeu, e de autoafirmação, para provar a si mesmo do que é capaz. E são muitos os exemplos de desperdício do dinheiro público resultantes dessa política predatória.
Lembro que quando trabalhei no Estado, na área dos transportes, existia uma tradição de que o reparte dos quatro anos de uma gestão governamental se dava da seguinte forma: No primeiro ano se discutia a continuidade ou não das obras em andamento e a necessidade da realização de novas obras. No segundo, a licitação e contratação de parte dessas novas obras. No terceiro, o início dessas obras. No quarto e último, a inauguração das obras herdadas que tiveram continuidade e a contratação das que ficaram pendentes. Ai vinha o novo governo e todo o ciclo se repetia.
Mas, se tal procedimento virou rotina, por que os novos governantes estão bradando tanto contra as tais “heranças malditas”? E, se realmente a política está mudando, o que há de novo nisso, além das antigas razões? Vejo duas motivações óbvias. A primeira é a de tentar se vacinar contra as exigências do novo eleitor, mais crítico, mais informado e profundamente cético em relação aos políticos. Ao antecipar as justificativas para as suas dificuldades, os novos governantes buscam se precaver contra as futuras cobranças do cidadão. Algo como: “a culpa não é minha, é do contexto e dos problemas gerados pela incapacidade do meu antecessor”. Cômodo, não?
A segunda, é o aproveitamento do momento de indefinição do quadro econômico e político, próprio para o oportunismo de ocasião, utilizado como instrumento de imposição de alterações estruturantes e de difícil adesão popular. No caso específico da realidade brasileira e gaúcha, usados para induzir a necessidade da adoção de medidas próprias de um neoliberalismo autoritário e socialmente impiedoso, como é o caso, por exemplo, das reformas previdenciária e trabalhista, no âmbito federal, e do enxugamento da máquina pública mediante a extinção de órgãos públicos e, consequentemente, da demissão de servidores pelo governo Sartori.
Mas então, essa é a grande transformação? Adotar postura de oposição na situação de governo? É muita desfaçatez. Pior ainda é usar o discurso do caos para justificar a estratégia do quanto pior, melhor, pouco se importando com os malefícios que isso gera no dia-a-dia dos cidadãos, especialmente aqueles que mais dependem das ações do Estado, e do prejuízo à imagem do Pais e do Estado no contexto internacional e nacional. Aliás, esforço esse que tem recebido o apoio indisfarçável, por óbvio interesse econômico, dos grandes grupos de comunicação do Brasil.
Poderia utilizar diversos chavões populares para classificar como engodo as medidas adotadas pelos novos governantes, do tipo “Mentira tem perna curta”; “Nada como um dia após o outro”; “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe”; “Aqui se faz, aqui se paga”, e outros tantos, mas prefiro prever a derrocada da nova tendência privatista com a expressão “O que é do homem o bicho não come”. Continuem desdenhando da nova consciência cidadã dos brasileiros e acabarão descobrindo o real significado das palavras indignação e revolta.
Os tempos mudaram, é verdade. O País está mergulhado numa grave crise política e econômica, também é verdade. Mas os aproveitadores de plantão continuam se achando mais espertos que o povo. Não é à toa que tanto Temer como Sartori tem pressa na execução de suas políticas neoliberais. Eles sabem, e as pesquisas de opinião mostram com clareza, que suas ações predatórias lhes reserva um irremediável obscurantismo eleitoral. Por uma sincera motivação. Eles têm a clara convicção, e o ditado popular é sábio nesse sentido, de que “quem semeia ventos, colhe tempestades”. Daí a postura camicaze adotada por eles em seus governos.
Mas tanto Temer como Sartori e seus apoiadores talvez ainda não tenham se dado conta de que assim como o mundo passa por uma nova fase cíclica de transformação política e econômica – que com o avanço tecnológico, especialmente na área da comunicação, adquire uma periodicidade cada vez menor -, também a nova realidade nacional passará, rapidamente, por um novo ciclo de transformação, que tudo indica não será mais ditado pela desfaçatez de interesses pessoais e partidários, disfarçados de públicos, mas por indução da soberana vontade popular. Será a consolidação da máxima “todo poder emana do povo e em seu nome é exercido”. Quem sobreviver verá.

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