Cientista político, Benedito Tadeu César, destaca a importância da resistência dos educadores


A Aula Cidadã organizada pelo CPERS, nesta quinta-feira (26), teve início com o cientista político, professor da UFRGS e integrante do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito, Benedito Tadeu César. “Estávamos iludidos quando achávamos que tínhamos estabelecido o processo democrático no Brasil. Hoje, revivemos os tempos da ditadura. E digo a vocês, não é por acaso que a categoria dos educadores é uma das mais visadas em períodos sombrios como o atual. Quem ensina a pensar é sempre uma ameaça”, observou.
Benedito fez uma profunda análise da conjuntura política do país ao longo dos anos, passando pelos governos ditatoriais, a abertura da democracia, o período pós-democrático e os dias atuais em que incessantemente tenta-se estabelecer as políticas de estado mínimo.
“Vivemos hoje uma conjuntura desanimadora. Para onde olhamos vemos que tudo que foi construído ao longo do século XX como nação, com a Constituição, as conquistas dos direitos sociais, os processos de industrialização, de um sistema público de ensino, educação e saúde, tudo isso está sendo destruído”, afirmou.
Benedito ressaltou que as forças reacionárias e regressivas, representadas pelos governos de Temer e Sartori (ambos do PMDB), insistem em destruir o que as forças populares construíram.
“O que estamos vivendo não é por acaso, existe uma estratégia. Os governos atuais têm o propósito de que o conjunto da população brasileira não merece conquistar os benefícios do desenvolvimento do país”, frisou.
O professor lembrou que foi durante os 21 anos de ditadura que teve início à deterioração dos salários dos educadores e o incentivo para que os filhos da classe média alta estudassem em escolas particulares. “A partir disso, os salários dos professores nunca mais se recompuseram”, observou.
Benedito pontuou que a grande mudança na educação pública ocorreu durante os governos Lula e Dilma, no início dos anos 2000, quando foram criadas 18 universidades e mais de 400 escolas técnicas, o que dá a dimensão da importância da educação neste período. Já no governo Fernando Henrique, conforme lembrou o cientista político, não foi criada nenhuma universidade pública e havia uma lei que impedia que se criassem escolas técnicas públicas, transferindo para a iniciativa privada. Também era proibido criar novos cursos e aumentar o número de vagas nas universidades públicas. “É isso o que está ocorrendo hoje. Há uma redução de 45% dos recursos para as universidades federais pelo governo Temer. Já o governo Sartori não só não paga e parcela os salários como também está desmontando as 11 fundações de pesquisa do Rio Grande do Sul. A ideia é a de que o Estado não precisa investir em educação, ciência e tecnologia porque a iniciativa privada dá conta disso. Para este governo, o Estado tem que ser um estado mínimo, não precisa oferecer serviços públicos de qualidade e produzir um desenvolvimento nacional autônomo”, ressaltou.
Ao analisar a falsa crise alegada pelo governo Sartori, o professor afirmou que esta é uma questão de prioridades do governo. Segundo ele, há muitos anos o Estado enfrenta o déficit dos cofres públicos. Porém, em governos anteriores não houve parcelamento do salário dos servidores. “Este governo mantém como prioridade o pagamento dos fornecedores e aí fica sem caixa. Ou seja, segue a cartilha de que é preciso se criar um caos para se justificar o desmonte de todas as instituições públicas. E é isso que está acontecendo, o desmonte do Estado”, afirmou.

Fotos: Carol Ferraz

 

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